Um perfil da coleção de fotografias do AHMWL


Caracterizar um conjunto documental, embora constitua um risco por determinar uma forma de percepção privilegiada, é uma etapa necessária. Em primeira instância, para sua divulgação, mas num segundo momento como orientação à pesquisa e revisão crítica regular.

Apesar da pequena dimensão desta coleção, o conjunto apresenta aspectos surpreendentes e cumpre, em especial, a função de complementar as demais coleções custodiadas pela Secretaria Municipal de Cultura e até mesmo o panorama imagético existente nos acervos paulistanos.

Essa função de complementaridade pode ser justificada de forma breve. Boa parte dos acervos de documentação urbana apresenta uma cobertura delimitada temporalmente ao período entre 1860 e 1920, praticamente restrita às áreas conhecidas como Centro Velho e Centro Novo. Esse recorte é reflexo das origens desses acervos e dos períodos de organização arquivística e produção historiográfica sobre estes campos em momentos como as décadas de 1910-1920, de 1950 e, mais recentemente, nos últimos vinte anos.

A constituição na última década de um universo ampliado de novos acervos, com produções sobre infra-estrutura urbana como o caso do Museu da Energia, reunindo registros sobre geração e distribuição de energia elétrica e gás por exemplo, expandiu os marcadores temporais para a primeira metade do século XX e a cobertura geográfica, de modo pouco homogêneo, para os bairros da cidade em crescimento. No entanto, esta expansão ainda não se reflete, proporcionalmente, no acesso público pleno a esses novos conjuntos.

A coleção custodiada pelo AHMWL corresponde a um universo aproximado de cinco mil imagens, das quais cerca de quatro mil foram trabalhadas com suporte do Programa ADAI em 2008-2009. A base para consulta pública apresenta um conjunto menor devido à inserção em andamento das imagens digitalizadas.

Embora disponível para consulta pública há mais de vinte anos, o conjunto não contava com recursos de pesquisa, restritos há uma década a listagens sumárias das fotografias em álbuns apenas. Ao mesmo tempo, as imagens não integram uma coleção fotográfica convencional, estando dispersas entre diversas séries do Fundo Prefeitura Municipal de São Paulo como ainda, em menor grau, em Fundos Particulares. O projeto Da relíquia ao virtual permitiu o acesso agilizado com a constituição de um instrumento de pesquisa valioso na forma de banco de imagens.

As fotografias constituem assim um conjunto orientado para o registro documental das ações da administração pública municipal, complementado por pequenos conjuntos de origem particular doados ao AHMWL nas últimas décadas. Neste caso, estão incorporadas para consulta imagens dos fundos Armando Prado, Escritório Caio da Silva Prado, Carlos de Souza Nazareth e Família Edgard de Barros.

O recorte temporal é de modo estrito a primeira metade do século XX, com algumas ocorrências num horizonte mais alargado entre as décadas de 1890 a 1970. A cobertura geográfica estende-se sobre o município de São Paulo, incluindo, por questões de desmembramento de sua esfera administrativa, o municípío de Osasco. O caráter de complementaridade em relação a outros acervos custodiados pela Secretaria Municipal de Cultura (e mesmos os demais acervos locais) está na cobertura espacial mais ampliada cobrindo bairros em expansão nas décadas de 1920 e 1930, por exemplo.

Estes delimitadores permitem apontar conjuntos expressivos como os relativos a obras de pavimentação pública entre 1930 e 1950, registros sobre o sistema de ensino municipal entre 1960-1970 e diversas obras públicas na cidade como Mercado Central da Cantareira ou a Esplanada do Carmo. A seleção de imagens desta edição destacou estes agrupamentos.

Quanto à caracterização física da coleção, sua composição é feita predominantemente de cópias positivas armazenadas grande parte em álbuns originais. Há ocorrência reduzida de negativos em formatos 4 x 5, 120 e 35 mm, em suportes rígido (vidro) e flexível, este com predominância. Registram-se excepcionalmente imagens estereoscópicas (positivo e negativo) no Fundo Particular Armando Prado, datadas do início do século XX. Outro destaque é o uso da fotografia em processos de pedido de privilégio, datados da década de 1890, apresentados pelo empresário Morris Kohn para implantação de serviços tão diversos como veículos para o transporte público, cadeiras de engraxate e carroças de mão para o transporte de mercadorias destinadas ao comércio ambulante.

Do ponto de vista autoral a quase totalidade do conjunto não apresenta informações, exceto pelo registro das unidades administrativas de origem. No entanto, é possível identificar autores conhecidos, com atuação em campos distintos, como:

• VAMP, pseudônimo de Benedito Junqueira Duarte (1910-1995), fotógrafo que constitui um dos principais autores presentes no acervo da Divisão de Iconografia e Museus, como o AHMWL, unidade integrante do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH);

• Zanella & Moscardi, sociedade formada por Ugo Dante Zanella e José Moscardi, reconhecidos profissionais no campo da fotografia de arquitetura, com produções individuais cobrindo um largo espectro entre o início do século passado e as décadas de 1960 e 1970;

• Max Rosenfeld (?-1962), atuante nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro entre as décadas de 1920 e 1950, conhecido por seus retratos, mas com produção ocasional em documentação técnica e de obras;

• Sascha Harnisch, fotojornalista, ativo nas décadas de 1940 a 1960; e

• Lenise Pinheiro, renomada fotógrafa especializada em documentação teatral, em atividade.

As imagens abaixo ilustram estas características do acervo. Estão acompanhadas de reproduções das telas de busca do sistema implantado.

Rua Boa Vista, numa tomada em direção à Praça da Sé. ca 1920.

Em primeiro plano, esquinas da Ladeira Porto Geral, à esquerda,
e Rua João Brícola, à direita.

Acervo AHMWL

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