PMSP/SMC
São Paulo, junho de 2013
Ano 8 N.33 

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  • ENSAIO TEMÁTICO
  • Esplanada Hotel
    a política de fomento para
    os “grandes hotéis” paulistanos da década de 1920




    | Fomento | O Centenário | Enfim, o Esplanada | Fontes |



    O centenário da Independência

    As comemorações da Independência do Brasil em 1922, associadas quase certo a um clima de recuperação lenta após as perturbações que a I Guerra Mundial geraram na economia mundial, criam condições especiais de desenvolvimento que exigem, contudo, ações estudadas.

    No campo que interessa aqui, o desenvolvimento hoteleiro, as necessidades locais por grandes empreendimentos não foram atendidas. No entanto, curiosos elos irão ligar certos marcos do setor como o paulistano Esplanada Hotel e os cariocas Hotel Glória e Copacabana Palace. Todos eles referenciados no modelo do “grande hotel de luxo” irão apresentar coincidências no tempo e nos agentes envolvidos.

    Como veremos o projeto arquitetônico de todos esses empreendimentos terá um autor comum, dois deles serão objetos de investimento da família Guinle e, por fim, apenas o Hotel Glória conseguirá efetivamente ser aberto a tempo para as comemorações da Independência.

    Voltemos a São Paulo. Em fevereiro de 1920, no dia 4, a Câmara aprova a lei n. 2.262, publicada no dia 7, que concede “diversos favores ao particular, empresa ou companhia que construir e fizer funcionar, nesta capital, os três primeiros grandes hotéis”.

    Agora, na gestão do prefeito Firmiano Moraes Pinto, decide-se promover a instalação de 3 hotéis de grande porte. Reduz-se, porém, para dez anos o prazo de isenções dos “impostos de Indústrias e Profissões, de Viação e dos emolumentos para aprovação de plantas e construção”. O texto legal, breve, altera o número de acomodações de cem para duzentos quartos.

    Meses depois, surpreendentemente, na sessão do dia 2 de outubro, os vereadores aprovam nova lei — n. 2.324, publicada no dia 9, que, sem qualquer referência a anterior: “Autoriza o prefeito a firmar contrato com particulares ou empresa que se organizar, para o fim de construir e fazer funcionar um grande hotel, nesta capital, mediante a concessão de certos favores”. O texto, mais breve que os anteriores, indica que o empreendimento deve atender as “condições de capacidade de lotação, conforto e elegância exigíveis (nosso grifo), concedendo a garantia de juros de seis por cento (6% ao ano), sobre o capital aplicado reconhecido, até ao máximo de seis mil contos de réis (6.000:000$000), durante o prazo de 10 anos”.

    Impressiona a recorrente falta de parâmetros para caracterizar o empreendimento, o que, visto de hoje, faz as diversas proposições de isenções e garantias de juros parecerem irrelevantes. De qualquer modo, o andamento parece mudar completamente.

    Em 10 de fevereiro de 1921, a Companhia dos Grandes Hotéis dá entrada, conforme processo n. 16.445/1921, de pedido de prazo para a apresentação de projeto para construção de um grande hotel. A folha inicial, sem data, sem assinatura, datilografada, revela surpreendente presteza no atendimento ao contrato firmado em 11 de dezembro passado, dois meses apenas após a última lei de fomento municipal.

    A emprega busca então prorrogar o prazo de 60 dias para apresentação de projeto e orçamento. A solicitação é aprovada, sendo publicada em 22 de fevereiro.
      ...(a empresa) assumiu entre outros compromissos aquele de apresentar no prazo de 60 dias os projetos e orçamentos completos para a referida construção, o que poderia fazer com relativa facilidade aproveitando para esse fim os projetos já existentes dos ex-proprietários do terreno que esta Companhia adquiriu, projeto esse que V. Exa. [o prefeito] já teve ocasião de examinar.
      Entregues esses projetos ao seu originário executor o Dr. F. P. Ramos de Azevedo, foi este obrigado, em virtude da nova lei que estabelece o novo Padrão Municipal, a introduzir modificações nas plantas, afim de obedecer os preceitos desse mesmo Padrão.
      E é em virtude dessas modificações e do enorme vulto de trabalho que um projeto desses acarreta, que não foi possível aos referidos arquitetos dar esses estudos completamente terminados no prazo estabelecido, pelo que vem esta Companhia requerer de V.Exa. se digne prorrogar esse referido prazo por mais de 20 dias, afim de poder a mesma dar cabal e completo desempenho aos compromissos assumidos.
      (processo n. 16.445/1921, f.1)
    A Companhia dos Grandes Hotéis parece estar sob nova gestão, embora o documento não traga nomes, nem assinatura! Existe um projeto e uma relação não exatamente clara com o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928), sobre a qual nada sabemos.

    Em anexo ao processo, encontra-se hoje outro, de número 18.269/1921. Com inicial do dia primeiro, protocolado em 8 de março de 1921, a Companhia encaminha para aprovação “desenhos de plantas, fachadas, cortes, orçamento geral e memorial descritivo do Grand Hotel Excelsior que pretende construir no terreno de sua propriedade à Esplanada do Theatro Municipal”.

    O documento remanescente não traz, porém, as pranchas, nem memorial, nem orçamento. O projeto é aprovado e recebe longo parecer, datado de 14 de março, do engenheiro [A]. Marchini, chefe da seção responsável.

    O tom do texto é curioso, prestativo em atender à importante demanda (ou a importantes solicitantes?). O projeto prevê dois blocos, um à esquerda, junto à Rua Formosa, totalmente separado, destinado a arrendamento, com “1 loja e 2 sobrelojas”; outro, à direita, destinado ao hotel propriamente. A orientação do terreno garante a exigência de insolação mínima de um hora em todos os saguões, além de oferecer perfeita ventilação, como observa o engenheiro.

    Marchini lamenta a “situação infeliz” da entrada principal, encoberta pelo Teatro Municipal, embora destaque a facilidade de estacionamento de veículos, um dos pontos comuns às leis municipais comentadas. Em tom exaltado comenta a obra:
      Do vestíbulo penetra-se ao grande Hall Central, peça majestosa e de rica decoração que dá acesso aos pavimentos superiores pela escada nobre e por 2 ascensores.
      Neste mesmo pavimento estão dispostos os grandes Salões de Festas e refeições, — magníficos em sua decoração e elevado pé direito, além dos salões de bilhares, leitura, fumoir e peças de administração.
      Nos sete pavimentos superiores estão dispostos cerca de 370 dormitórios, isolados ou formando luxuosos apartamentos.
      Os quartos são amplos e bem iluminados, dotados de todos os confortos modernos — e satisfazendo o padrão em vigor.
      Os corredores internos de comunicação satisfazem plenamente pela largura e iluminação.
      A fachada é de um aspecto grandioso e nobre, com uma grande cúpula dominando o Parque Anhangabaú.
      Entre as peças do projeto não figuram os cálculos de resistência do esqueleto em cimento armado, podendo ser isento desta formalidade (artigo 27 do Padrão em vigor) o eminente arquiteto autor do projeto.
      O projeto apresentado — pela sua grandiosidade, conforto e satisfazendo plenamente as exigências das Leis 2.262 e 2.323 — faz perfeitamente jus aos favores concedidos por elas.

      (processo n. 18.269/1921, n.p.)
    O engenheiro, apesar das qualidades apontadas no projeto, não deixa de indicar as infrações, entre elas a não apresentação do título de propriedade do terreno. O andamento do processo, apesar da presteza e tom pomposo, receberá o “de acordo” final, do prefeito, em 9 de agosto, dois dias após de ter sido dispensada — “esta formalidade”: a apresentação do título de propriedade. Sem mencionarmos, talvez mera formalidade, a ausência dos “cálculos de resistência do esqueleto em cimento armado” de uma edificação desse porte, exigência usual no período.

    Qual seria, contudo, o projeto apresentado? Sabe-se, como indicado acima, que era uma versão preexistente que a Companhia dos Grandes Hotéis aproveitara. A menção a seu “executor” — Ramos de Azevedo — não é muito clara. A descrição de Marchini, afora os 370 dormitórios (cifra que não parece compatível com nenhuma das propostas), faz lembrar o projeto enviado em 1912 por Souquières, seja pela distribuição de espaços no piso térreo, seja pela “grande cúpula” dominando o conjunto.

    O Grand Hotel Excelsior

    Sob o nome provisório — Grand Hotel Excelsior — começam os desdobramentos mais diversos ao longo de 1921. Alguns encaminhamentos à prefeitura, protocolados em livros de requerimentos, não foram localizados, e talvez permitissem entender melhor os andamentos, tão tortuosos até aqui. Um deles data de abril de 1921, apresentado pela empresa como “proposta de construção de hotel” (processo n. 10.501/1921); outro, em maio de 1921, sem assunto indicado (processo n. 25.038/1921).

    Os anais da Câmara registram na sessão de 18 de junho de 1921 mensagem enviada:
      Os srs. Drs. Ernesto José Nogueira e Alfredo Rupino (sic), em nome da “Companhia dos Grandes Hotéis”, convidaram a Câmara para a solenidade do lançamento da primeira pedra do edifício de um grande hotel, a ser construído no terreno situado às ruas Conselheiro Crispiniano, travessa do Theatro Municipal e rua Formosa, segunda-feira, 27 do corrente, às 14 horas.
    A notícia merece algum destaque, como indica por exemplo, o jornal carioca O Paiz, em 28.6.1921, à página 2:
      S. Paulo, 27 (A.A.) - Conforme estava anunciado, realizou-se hoje, às 14 horas o lançamento da pedra fundamental do edifício do S. Paulo Palace, que será construído no terreno sito atrás do Teatro Municipal, de propriedade da Companhia de Grandes Hotéis de S. Paulo.
      O projeto do novo hotel é do engenheiro Sr. Joseph Gire, autor também dos projetos do Plaza Hotel, de Buenos Aires, e Ritz Carlton, de Madri.
      As obras foram confiadas à Companhia de Construções em Cimento Armado, e estarão concluídas em setembro de 1922.
      Ao ato inaugural compareceram os Srs. João Fonseca, pelo presidente do Estado; Luiz Fonseca, pelo prefeito municipal; comendador Cav. Frontini, pelo cônsul italiano, em S. Paulo; Puglisi, diretor da Companhia dos Grandes Hotéis de S. Paulo; representantes da imprensa e outros convidados.
      O comendador Puglisi pronunciou breves palavras alusivas ao ato, pondo em relevo a importância do empreendimento que vinha concorrer para a prosperidade da nossa capital, sendo, ao terminar, muito aplaudido. Em seguida foi servida uma taça de champagne aos presentes.
    A cerimônia encontra espaço na imprensa, talvez em inserção paga, trazendo fotos do evento, com personalidades presentes e "aspecto da mesa de doces oferecida aos convidados", além de reprodução do projeto da fachada, no semanário paulistano A Cigarra, de 15 de julho. Embora registre a data como 2 de junho, o texto descreve com mais detalhes a dimensão do empreendimento, bem como revela a presença do engenheiro municipal Victor Freire e de Octávio Guinle, um dos diretores da empresa, sinal evidente da importância do empreendimento para o governo da cidade e da relevância social da diretoria.

    Lançada a pedra fundamental, resta agora dar início às obras. É o que indica o processo n. 31.176/1921, na qual a Companhia Construtora em Cimento Armado solicita licença, deferida, para abrir vala no calçamento e asfalto na rua situada aos fundos do Teatro Municipal, em julho de 1921. Dois meses depois, em 5 de setembro, a construtora pede autorização para assentar elevador de materiais. Chama a atenção nesses processos a nova denominação - São Paulo Palace Hotel.

    Nota curiosa, no mesmo período, parece sinalizar dupla referência. Que há interesse em explorar o setor hoteleiro, ao mesmo tempo que se procura obter mais “vantagens” junto à municipalidade. Assim durante a sessão na Câmara Municipal, em 9 de julho de 1921, discute-se o parecer n. 55 da Comissão de Justiça a favor da rejeição do projeto n. 24, do mesmo ano, apresentado em 16 de maio pelo vereador Luiz de Anhaia Mello. Este propunha a redução do número mínimo de quartos – de 200 para 100, quantidade exigida na lei n. 2.262/1920 como condição para os empreendimentos candidatos aos favores concedidos aos 3 “primeiros grandes hotéis que forem construídos nesta capital”. (ANAIS, 1921, p.274)

    A comissão de Justiça argumenta que os favores já haviam sido concedidos a dois empreendimentos — não nominados, mas certamente, o Esplanada e o Terminus Hotel —, ambos em construção, o que deixaria esses dois projetos sem “iguais vantagens”. Votado e aprovado o parecer, a proposta é assim rejeitada.

    O ano de 1921 é, muto provavelmente, encerrado a contento aos olhos dos empreendedores do agora São Paulo Palace Hotel. Último requerimento da Companhia dos Grandes Hotéis à prefeitura, em 6 de dezembro, sem continuidade porém, solicita informação sobre o processo de fiscalização:
    1. Se a construção, objeto daquele contrato, está sendo fiscalizada por parte dessa Prefeitura, ou irá ser fiscalizada.
    2. Por quem é designado o fiscal que exerce essa fiscalização e si o mesmo faz parte do pessoal da Prefeitura.
    O balanço relativo ao exercício findo em dezembro de 1921 data de 13 de fevereiro do ano seguinte, sendo publicado no Diário Oficial do Estado (DOSP, 14.2.1922, p.1187):
      Achando-se em construção o nosso primeiro dos Grandes Hotéis com que pretendemos dotar esta Metrópole, a nossa ação toda tem repousada nesse único fim; qual o de apresentar ao culto público Paulista um hotel digno dele.
      Na construção dos grandes hotéis tivemos em mira satisfazer o desejo da adiantada população da nossa Capital, que de há muito necessita de hotéis, quer pelo luxo quer pelo conforto, possam-se igualar aos das grandes Cidades estrangeiras.
      Os planos dessa construção, como sabeis, são de lavra do insigne arquiteto francês Giré, autor de monumentais trabalhos dessa natureza, que embelezam as grandes 'urbs' do velho mundo e da Argentina, e a execução tem sido cumprida à risca pela Companhia Construtora em Cimento Armado.
    A sociedade anônima por ações tem então capital de 5.000:000$000 inteiramente realizado em 50.000 ações de 100$000. Assinam o balanço Octavio Guinle, o comendador Nicola Puglisi Carbone, citado acima na matéria de O Paiz, e o Cavalheiro Vicente Frontini. Compõem ainda o conselho fiscal Alfredo Rubino, Antonio Paez e Victor M. Ayrosa Filho.

    A relação de nomes surpreende. Primeiro, por incluir Octavio Guinle (1886-1968), filho de Eduardo Guinle, uma das grandes fortunas do final do século XIX. Octavio responde desde 1919 pelo empreendimento de um dos hotéis referenciais do período, o Copacabana Palace.

    Por outro lado, o comendador Nicola e seu irmão Giuseppe ([1864]-1939) eram empreendedores locais bem estabelecidos. Migrados para o Brasil, dedicaram-se ao comércio de vinhos produzidos pelo pai na Itália. Em 1910, fundam a Companhia União dos Refinadores (leia-se, para toda uma geração — Açúcar e Café União), reunindo vários empreendimentos do setor, na qual estariam à frente até o final da década de 1920. Em paralelo às obras do hotel, os irmãos investiam em outras frentes como o cinema Olímpia, à Av. Rangel Pestana, gigantesca sala para cerca de 2 mil espectadores inaugurada em março de 1922.

    Joseph Giré: em busca de um autor

    Sobre o arquiteto francês Josesph Giré (1872-1933) conhece-se em especial sua produção na Argentina e no Brasil. Roberto Cabot (RJ, 1963), artista plástico, bisneto do arquiteto, preparava em 2010, em conjunto com a produtora Rebecca Lockwood, uma edição sobre a obra, atualmente em fase de finalização.

    Sua produção na Argentina data do mesmo período que a brasileira, embora pareça ter maior desenvolvimento e difusão num primeiro momento naquele país. Não existe, que se saiba, um estudo amplo sobre a produção de Giré, isoladamente ou em parcerias.

    Na Europa consta ter realizado obras para o Príncipe Orloff, embaixador russo na França, e a família Caran d'Ache. A partir de 1900, Giré atua como sócio do Gabinete de Arquitetura Lucien et Henri Grandpierre, no qual deve provavelmente ter iniciado sua atuação na Argentina.

    Em Buenos Aires, responde em 1913, em associação com o engenheiro Juan Molina Civit, por ampliação do Plaza Hotel (1907-1909), à Rua Florida, ainda hoje em funcionamento. O projeto ocupou terreno remanescente, criando uma nova entrada para veículos e ampliando as instalações do térreo.

    O projeto Arquitectos franceses en Argentina: catálogo online de sus obras (veja <arquitectos-franceses-argentina.blogspot.com.br> inclui uma relação de obras atribuídas a Giré. Com exceção de um "petit hotel", na Calle Uruguay, a relação dos demais projetos — 14 — corresponde a parcerias com Molina Civit, marcadas com destaque por residências burguesas urbanas de 2 a 3 pavimentos. Além de obras na capital, inclui aindas realizações nas províncias de Rio Negro, Santiago de Estero, San Juan, Mendonza, Mar de Plata e Entre Rios. São nessas localidades que realiza projetos de envergadura como o Hospital Independencia (Santiago de Estero), sucursais do Banco Nación (San Juan e Mendonza) e a Escuela Centenario (Entre Rios). Consta ainda projeto apresentado em concurso em 1910 para novo edifício da Faculdade de Direito.

    À exceção do projeto para o Esplanada Hotel, todas as obras conhecidas de Joseph Giré no Brasil têm lugar na cidade do Rio de Janeiro, onde efetivamente constituirão marcos da paisagem de forma efetiva.

    Sua obra mais antiga é o projeto realizado com Armando da Silva Telles a residência da família de Eduardo Guinle (1846-1912), construído entre 1909 e 1913. O palacete, conhecido hoje como Palácio Laranjeiras, passa na década de 1940 para a posse do governo federal, tendo sido utilizado com residência oficial da presidência na gestão Juscelino Kubitschek (1956-1961), que não quis residir no Palácio do Catete, no qual Getúlio Vargas se suicidara em 1954. O edifício passaria depois ao governo estadual, sendo atual residência do governador.

    Grandes marcos na paisagem carioca, que se estende pela costa litorânea, são de sua autoria. Primeiro, o Hotel Glória, inaugurado em 1922, empreendimento de Rocha Miranda, através da Companhia de Hotéis Palace, construído no bairro da Glória. Segundo, o Copacabana Palace, inaugurado com atraso em agosto de 1923, empreendimento de Octavio Guinle, igualmente acionista do Esplanada Hotel, e Francisco Castro Silva. A referência aos grandes hotéis da Riviera Francesa é reconhecível em ambos os projetos.

    Sobre o Hotel Glória, nota na coluna Vida social, no carioca O Paiz, em primeiro de outubro de 1918, à página 6, indica não só curioso aspecto sobre o empreendimento, bem como traça um perfil do profissional. Sob o título Viajantes registra-se a chegada naquele dia ao Rio dos arquitetos J. Giré e Bovet:
      com intuito de contratar com capitalistas brasileiros, de acordo com a companhia dos hotéis Carlton-Rist (sic), a construção e manutenção de um grande hotel na praia do Russel.
      O Sr. J. Gire, ex-aluno da Escola de Belas-Artes de Paris, é um nome assaz conhecido na França, em Roma e em Buenos Aires. Basta dizer que S. S. foi boursier do prix de Rome de arquitetura e construiu na França edifícios e monumentos consideráveis pelo seu valor e beleza, tais como os palácios dos príncipes da Palignac, do duque de Clermont Tonnerre, do principe Zurlo, dos Srs. Laumont, Lafont, Machiellis, etc., e os castelos Orloff e Double de St. Lambert, respectivamente em Fontainebleau e em Evian.
      Em Buenos Aires não foram menores os seus trabalhos arquitetônicos. O City Bank, os palácios R. Carlos Ocampo, Madariaga, Hariláos, Olmos, Cronwell e Frias, escolas do Centenario, Hospital Independência e, finalmente, o elegante e luxuoso Plaza Hotel, cujos planos remodelou, são obras suas.
      O Sr. Gire, que não se limita a ser um técnico e especialista arquitetônico, é, além disso, um artista, na sua completa significação e um homem de fina e cultivadissima mentalidade.
    Outros marcos urbanos de sua autoria são conhecidos como edifícios de apartamentos — Edifício Praia do Flamengo (1923), edifícios comerciais como a sede da seguradora Sul América (1923), em conjunto com Robert Prentice, mas o mais contundente deles será o Edifício A noite, maior arranha-céu da capital, à Praça Mauá. Construído ao final da década de 1920, em parceria com Elisiário Cunha Bahiana (1891-1980), o projeto aproxima-se do art déco, em contraste com o academicismo afrancesado – Luís XIII, Luís XVI etc - das obras anteriores.

    Entre os vários projetos para a família Guinle inclui-se ainda o conjunto da Ilha de Brocoió, junto à Ilha de Paquetá, ao início da década de 1930, mansão em estilo normando encomendada por Octavio Guinle. Adquirida na década de 1940 pelo governo federal, é hoje residência de verão do governo estadual. A relevância desses projetos, como referências urbanas cariocas, é reconhecida pelo tombamento em esfera estadual e federal de vários deles.

    A obra de Joseph Giré, apesar de sua presença expressiva, é pouco estudada. O longo período de atuação intensa na cidade do Rio de Janeiro implicou, quase certo, em manter residência regular. Talvez uma das últimas notas na imprensa, publicada em 21 de agosto de 1932, no jornal carioca Correio da Manhã, indica sua notoriedade e atuação na época:
      Depois de uma estadia de dois anos na Europa, regressa terça-feira pelo 'Massilia' o notável arquiteto francês Dr. Joseph Giré, que vem acompanhado de sua Exma esposa. O Dr. Giré é sem favor uma das maiores expressões da atual arquitetura francesa, especializado em grandes hotéis e grandes edifícios sendo inúmeras as suas obras modelares em Paris, Genebra e Buenos Aires.
      No nosso país tem feito entre outras obras o Hotel e Cassino Copacabana Palace, o Hotel Esplanada de S. Paulo, o Edifício da Cia Sul América, o Edifício Flamengo, edifício d'”A Noite”, etc., e grande número de residências de luxo de nossa elite no Rio e S. Paulo.
      Retomará em seguida a direção do seu Escritório Técnico, destacando-se entre os importantes trabalhos confiados a sua mão de mestre as grandes obras do Yacht Club.
    Merece registro que nos últimos vinte anos seja recorrente a atribuição do projeto do Esplanada Hotel aos arquitetos franceses Emile Viret e Gabriel Marmorat.

    Ativos em especial no Rio de Janeiro, a partir de 1908, em obras como o edifício para o Banco Francês e Italiano (1924), atuam eventualmente em São Paulo como em projeto para edificação à Rua da Quitanda (FISCHER, 2005).

    Talvez a mais conhecida obra, embora atribuída em algumas fontes apenas a Marmorat, seja o Pavilhão de Honra da França para a exposição comemorativa da Independência em 1922. Inspirado no Petit Trianon (1762-1768, Jacques Ange Gabriel), o edifício será depois ocupado pela Academia Brasileira de Letras, uma das várias obras que a dupla realiza em conjunto com a Monteiro & Aranha Engenharia e Arquitetura.

    Como Giré, partilham muitas vezes de um mesmo vocabulário eclético, mas também procuraram uma abordagem modernizante, com revela por exemplo o Pavillon de la Presse, sob a torre Eiffel, no Campo de Marte, para a Exposição Internacional de Paris em 1937.

    A atribuição parece indicar tanto a inexpressiva presença da obra de Joseph Giré em São Paulo quanto o pouco reconhecimento de sua produção na historiografia da arquitetura brasileira. Quase certo, essa associação tenha como referência o artigo de Guilherme de Almeida, de 1960, reproduzido parcialmente ao início dessa edição do Informativo. Curioso é que o lapso do poeta não se restrinja ao Esplanada, mas inclusive atribua a Viret e Marmorat o projeto do Copacabana Palace.

    1922: novos aportes

    As comemorações da Independência se aproximam. A obra do hotel exige esforço concentrado. Em 11 de março, a Câmara municipal aprova a lei n. 2.463, publicada no dia 31, que “Concede o empréstimo de 3.000:000$000, em letras da Câmara, à Companhia dos Grandes Hotéis de São Paulo”.

    As discussões na Câmara Municipal para aprovação do empréstimo transcorreram com algum tumulto. Na sessão de 24 de dezembro de 1921, a leitura dos pareceres das comissões reunidas de justiça e finanças apresenta a justificativa da iniciativa: a garantia de juros de 6%, inclusa na lei n. 2.324/1920, era insuficiente como suporte ao empreendimento.
      As isenções de impostos municipais redundaram efetivamente em alguma vantagem, mas somente aos que já se haviam proposto construir prédios destinados a essa indústria, pois são ainda muito insignificantes para, por si sós, estimularem esses empreendimentos que, se não fora o crescimento constante da cidade e a falta quase absoluta de hotéis, não teriam sida levados avante. (ANAIS, 1921, p.517)
    A argumentação segue na linha de que o mecanismo atraiu capitais — “avessos a empregos semelhantes” —, mas a “instabilidade de crédito” põe em risco o empreendimento.

    Recomenda-se a recusa da proposta sugerida pela empresa com participação da prefeitura no empréstimo no valor de 2 mil contos. Propõe-se então elevar o valor para três mil, mas com garantia de “primeira e especial hipoteca de todos os bens da Companhia, que não poderá assim hipotecá-la a outrem “ (p.518), além de redução do prazo proposto para 5 anos. Dessa forma, em caso de quebra eventual de contrato a municipalidade teria exclusividade sobre as garantias apresentadas.

    Há protesto da parte do vereador Mario Graccho, membro da comissão de justiça, o qual por motivo de viagem ainda analisava o projeto. Graccho tem posição contrária à proposta da empresa — “companhia de nome tão pomposo e de tão mesquinhos capitais” (idem, p.521) — e a das comissões.

    A intervenção gera longo debate para justificar a apresentação do parecer sem a aprovação de Gracco. Este contesta o valor, indicando que a quantia de 3 mil contos seria suficiente para construir todo o empreendimento. O vereador contesta tudo com má vontade e sem domínio técnico. Vota-se e aprova-se, por fim, o adiamento da discussão por duas sessões. A Câmara recusa ainda o pedido de Graccho de demissão da comissão de justiça.

    No dia 11 de março, retoma-se a discussão; são analidas cinco emendas ao projeto de lei nas cláusulas sobre aplicação de juros e garantias. Há calculo detalhado relativo à avaliação de todos os bens apresentados. Entre eles, incluem-se os 3 lotes: o primeiro, com testada principal à Rua Conselheiro Crispiniano com 31,7 x 31,40 m, onde fica o Clube Português; o segundo, que corresponde efetivamente ao hotel em construção, com 82,10 m de testada junto à Esplanada, além de faixa com 10,10m “considerada um espaço livre para utilidade do referido Hotel” (ANAIS, 1922, p.106), e profundidade média de 28 metros; e, por fim, lote junto à Rua Formosa, composto por 4 sublotes. Além dos terrenos são apresentados como garantias os imóveis existentes e o destinado ao hotel, em construção.

    O projeto é aprovado e votado (9 votos a favor, 5 contra), sendo as emendas igualmente aprovadas. No entanto, as condições financeiras não parecem atingir em tempo adequado os valores necessários para o empreendimento.

    Como indicam os registros nos anais, em março de 1922 (ANAIS, 1922, p.107): “A construção do hotel ainda se acha muito atrasada; reputamos que já foi, porém, despendia a quarta parte do valor da empreitada, isto é, 800:000$000, aproximadamente”.

    Em 5 de agosto de 1922, a empresa anuncia, como publicado no Diário Oficial do Estado três dias depois (DOSP, 8.8.1922, p.5248): “Manifesto para a publica emissão de um empréstimo de cinco mil contos de réis (Rs. 5.000:000$000) em cinquenta mil (50 mil) obrigações ao portador (debêntures) de valor nominal de cem mil réis (Rs. 100$000), cada uma”.

    O anúncio revela que o capital da empresa é de 5 mil contos em ações, ao qual se busca o aporte de 100% desse valor. A emissão de debêntures, aprovada em assembleia geral extraordinária em 25 de maio de 1922, é justificada pela grande alta dos preços de materiais e serviços de construção. Projeta-se como expectativa de ganhos com lucros da operação do empreendimento valor “nunca inferior” a 15% do capital empregado.

    Como garantias da emissão são dadas os bens já apresentados no empréstimo com a municipalidade, acima indicados.

    As obras continuam, enquanto isso. No entanto, pedido de substituição de plantas, apresentado em 23 de junho de 1922, indica a ocorrência de embargo (processo n. 58.446/1922). Alterações no projeto não comunicadas à prefeitura motivaram essa ação.

    O parecer do fiscal indica que as modificaçõs no pavimento térreo, não indicadas, bem como das fachadas, podem ser aprovadas. Há apenas restrição a alterações nos pavimentos destinados a dormitórios devido à redução das condições de iluminação e ventilação dos corredores das duas alas laterais causada por construção de sanitários.

    Essas últimas modificações serão aprovadas em agosto, com ajustes conforme as duas pranchas anexadas ao processo n. 62.965/1922. Ainda assim o parecer, à folha 2, em 14 de agosto, lembra que a presença dos banheiros, não previstos originalmente, leva à perda das “esplêndidas condições que recomendavam o primitivo projeto”.

    Voltemos a processo anterior, sobre substituição de plantas, entrado em junho. Ele apresenta os únicos registros gráficos do projeto, localizados até o momento, na documentação custodiada pelo AHSP.

    As sete pranchas entregues, com detalhamento e tratamento tráfico heterogêneo, constituem contudo um conjunto incompleto. Não há prancha relativa à fachada principal, apenas as fachadas laterais e a traseira, embora neste caso, apenas de forma esquemática. Não incluem ainda cortes gerais da edificação, exceto breves inserções com detalhes, que comentaremos adiante.

    Esplanada Hotel, 1922 - fachada sudeste

    Ainda sob o nome de São Paulo Palace,
    a Companhia dos Hotéis de São Paulo apresenta, com assinatura de
    Octavio Guinle em algumas pranchas, o projeto de J. Giré.

    Fachada lateral direita (sudeste), para o Anhangabaú.
    Destaque para alguns acabamentos pontuais e
    indicação de dimensões das aberturas verticais, em especial
    no salão de festas e no pavimento inferior.

    Acervo AHSP

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    As fachadas laterais parecem próximas ao efetivamente construídos. Nota-se, na lateral esquerda, em prancha que apresenta o tratamento decorativo integral em contraste com a relativa a outra lateral, que haveria uma cobertura lateral em vidro, ao fundo. Ambas as pranchas datam de setembro de 1921 e trazem a identificação estampada do arquiteto J. Gire. A prancha da fachada posterior data de março de 1922, sendo, como mencionada, esquemática; traz também em detalhe um planta da caixa de escada central.

    Esplanada Hotel, 1922 - fachada noroeste

    Fachada lateral esquerda (noroeste) para a Rua Conselheiro Crispiniano.
    Prancha do conjunto apresentado com maior nível de acabamento.
    Observe indicação de cobertura de vidro no corredor lateral, ao fundo.

    Acervo AHSP

    O processo traz, embora não haja expressamente nenhuma avaliação que justifique a inclusão, duas pranchas com detalhes excepcionais da parte superior da fachada. Ainda referenciando a obra como São Paulo Palace Hotel, as duas pranchas apresentam detalhes do coroamento do edifício, com representação da fachada e corte da área em destaque.

    Esplanada Hotel, 1922 - fachada - detalhe superior

    Fachada principal, detalhe do acabamento superior.
    O conjunto inclui duas pranchas com detalhes da ornamentação,
    embora não necessárias para aprovação do projeto.

    Acervo AHSP

    A prancha com planta do piso térreo, aprovada pela Companhia em 9 de março de 1922, é apresentada como “definitiva”. Inclui nas margens alguns detalhamentos e cortes, como o relativo ao vestíbulo da entrada do salão de festas.

    A distribuição dos espaços do piso térreo, frente ao esboço apresentado em 1912, parece à primeira vista modesta. No entanto, o programa funcional efetivo, mais detalhado, levou a divisões menores, embora o salão de festas tenha mantido as dimensões originais.

    Esplanada Hotel, 1922 - fachada - terreo

    Andar térreo.
    Prancha, como em outros casos do projeto,
    inclui detalhes como cortes parciais.

    Abaixo, detalhe da prancha
    com corte do vestíbulo do salão de
    festas, com acesso independente para a rua.

    Esplanada Hotel, 1922 - fachada - terreo - detalhe do vestíbulo

    Acervo AHSP

    À esquerda do hall central, localizam-se os espaços destinados à equipe hoteleira. Primeiro, o caixa e a contabilidade, em frente à recepção dos “viajantes”, situada no lado oposto do hall. Estreita passagem comunica com a gerência, que também possui um acesso junto à porta principal, e a diretoria. Existe um acesso de serviços, na lateral esquerda do edifício, que se comunica com o corredor de serviços que leva ao hall principal. Esse corredor estende-se paralelamente à rua, pelo eixo da construção, ao longo de quase todo o comprimento da edificação.

    Localizam-se ao fundo, na lateral esquerda, portaria, que dá acesso a armazém (“cambuse”), vestuários e “sala [de] jantar do pessoal”. Espaço significativo na parte posterior do edifício aparece nessa prancha sem divisões, genericamente identificado como “serviço”.

    À direita do hall, encontram-se os espaços destinados ao bar, com grande balcão em L. A entrada do salão de festas, situado em cota inferior, é feita ainda por acesso externo, com vestíbulo que permite comunicação com o bar. Sob o salão há ainda um pavimento, semi-enterrado, sobre o qual o conjunto não traz referências.

    O grande hall é articulado em dois níveis. O primeiro, já descrito, reune o caixa e contabilidade, à esquerda, e a recepção, à direita. Não existe uma área de espera para hóspedes e visitantes. O espaço é assim muito modesto comparado ao projeto apresentado em 1912.

    Pequeno lance de escada leva a um desdobramento do hall, como também articula as escadarias de acesso à diretoria, no lado esquerdo, e ao bar, no lado oposto. O segundo piso mais elevado do hall dá acesso à escadaria principal, que tem em cada lado um elevador social. Ainda nesse patamar, constam à esquerda, espaço para “correio distribuição” e no lado oposto, 3 cabines telefônicas.

    Há um elevador de carga, à direita da caixa de escada principal, sem ligação com o hall, mas comunicando com setor de apoio junto ao salão de festas, próximo ao qual há outro elevador de serviços, provavelmente para acesso ao andar nobre. Merece observação que há conflito, no tocante à circulação vertical, entre as pranchas do térreo e dos andares-tipo, pois o elevador de carga está indicado em lados opostos nas duas pranchas.

    O conjunto não inclui prancha relativa ao “andar nobre” com pé direito de 7,5 metros. Nem o conjunto da documentação gráfica permite inferir sua ocupação, além da ocorrência esperada de salões etc.

    Há, no conjunto, uma planta genérica para os andares ocupados pelos dormitórios. Com estampilha datada de junho de 1922, apresenta a distribuição de quartos, num total de 36 unidades. Existem cinco unidades duplas, articuladas por “salão”, junto à fachada principal. Todas as unidades são interligadas por halls e banheiros comuns permitindo os arranjos mais variados com até 3 unidades. O total para os cinco pisos, inferido a partir do andar tipo, de 180 quartos, inferior ao número que constam em guias de turismo da década de 1930 como veremos. A cifra é inferior ainda ao número mínimo exigido pela legislação de fomento — 200 quartos (e, claro, aos 250 quartos que eventualmente anunciaria o hotel anos depois), o que implica que o andar nobre, com pé direito duplo, talvez incluisse quartos para hóspedes.

    Esplanada Hotel, 1922 - andar-tipo

    Andar tipo - dormitórios.
    Observe os quartos junto à fachada principal, articulados por amplas salas.

    Acervo AHSP

    Nota curiosa, relativa a essa prancha, é a notação no canto superior esquerdo, que faz relação a outro projeto de Gire: “N.B: Os banheiros n.XVII e XX estão arejados pelo teto conforme ao corte R-S da planta n.[30] do Copacabana Palace”.

    Até a inauguração, exceto os já mencionados, não há outros requerimentos relativos à obra. Registra-se apenas o protocolo, nos livros de requerimentos, de pedido imediatamente após a inauguração. Em 4 de junho de 1923, a Companhia dos Grandes Hotéis apresenta projeto de aumento de copa, processo n. 17.943/1921, não localizado até o momento.

    Grandes Hotéis: mudanças na sociedade

    Datado de outubro de 1922, registro da assembleia geral ordinária da empresa, realizada no dia 2 (DOSP, 10.10.1922, p.6558), permite conhecer parte dos integrantes da sociedade. Presidida por Otavio Guinle e secretariada por Alfredo Rubino, a reunião abarca os detentores de 49.920 ações, de um total de 50 mil, como discrimina a ata. Estão presentes ainda outros 6 acionistas: Nicola Puglisi Carbone, Ernesto José Nogueira, José Comparato, Antonio Pace, F. J. Bittencourt Rebello e Victor M. Silva Ayrosa Filho.

    O balanço da empresa para 1922, datado de 10 de fevereiro do ano seguinte, informa que não foi possível abrir a tempo para as festas do Centenário da Indenpendência.
      Felizmente estão vencidas todas as dificuldades e contamos que até o próximo mês de Março, impreterivelmente, estará o Hotel concluido e recebendo nos luxuosos salões e aposentos do seu majestoso edificio o escol da sociedade brasileira e estrangeira. (DOSP, 22.2.1923, p.1410)
    Os números do balanço, em 31 de dezembro indicam um ativo de 11.011:856$775, Destes, correspondem a imóveis (o hotel) — 9.473:496$880, e a móveis e utensílios — 1.031:658$260.

    Aberto o Esplanada Hotel, a empresa realiza em 26 de setembro de 1923, assembleia geral extraordinária (DOSP, 14.10.1923, p.6774). Estão reunidos 9 acionistas, que representam a totalidade do capital da empresa. O controle cabe aos participantes majoritários – Octavio Guinle, com 25 mil ações, e o Comendador Nicola Puglisi Carbone, com 24.720 ações. Os títulos restantes – 280 – estão divididos igualmente entre Alfredo Rubino, Antonio Pace, Ernesto José Nogueira, F. J. Bittencourt Rebello, José Comparato, Vicente Frontini, Victor Ayrosa Filho.

    O motivo da reunião é aprovar a venda de 35.920 debêntures ao Cotonifício Rodolfo Crespi. Com valor individual de 80$000, a emissão totalizava 2.876:600$000.

    Sobre os desdobramentos dessa decisão, bem como o desempenho da empresa no período seguinte, não há dados conhecidos. O balanço relativo a 1924, conforme publicado em 1 de abril de 1925 (DOSP, 1.4.1925, p.2675), não traz mensagem aos acionistas, nem assinaturas da diretoria. Constam apenas os nomes dos auditores Moore, Cross & C, e do conselho Fiscal, agora formado por Ernesto José Nogueira, L. Molinari e L. Melai (?).

    No ano seguinte, em 1925, reunião dos acionistas, em 31 de julho, tem como objetivo a terceira amortização das debêntures, através de sorteio. Nenhum dos diretores da empresa e os demais presentes, num total de cinco, tem qualquer relação com a constituição conhecida anteriormente. A reunião é presidida por Fábio da Silva Prado, secretariado por Francisco Azevedo Jr, com a presença dos também diretores Dino Crespi e Ludovico Molinari, e mais Henrique Misasi.

    O controle da empresa está agora em mãos da família Crespi. A composição, como registra a ata da assembleia geral ordinária três anos depois,em 31 de março de 1928 reune o “Grd Uff. Comm.” Rodolfo Crespi, Adriano e Dino Crespi, e Fábio da Silva Prado, entre outros.

    A demonstração de contas, para o ano de 1927, registra ainda que houve recisão do contrato de garantia de juros com a municipalidade. Essa rescisão fora objeto da resolução n. 445, de 2 de maio de 1927, votada e aprovada pela Câmara Municipal. Conforme registrado na coluna Prefeitura do Município, publicada no Correio Paulistano, de 3 de maio do mesmo ano, a resolução aprova acordo entre as partes celebrado em 16 de dezembro de 1926.

    Através de requerimento da empresa (processo n. 21.842/1927), em 7 de maio, a Companhia pede lavratura de termo de rescisão e o pagamento devido. Cópia do termo de rescisão, datada de 16 de dezembro, consta do processo, que revoga contrato assinado em 11 de dezembro de 1920. A municipalidade desisti do direito de devolução das importâncias já recebidas pela Companhia e mantém a isenção de impostos por dez anos, além de prontificar-se adispender esforços, sem compromisso porém, para obtenção de isenção estadual.

    O artigo 2 da resolução mencionada prevê ainda o pagamento à empresa de 379:333$000, sendo 199:333$000 para completar os 360:000$000 de garantia dos juros relativos ao ano de 1925 e 180:000$000 relativa ao primeiro semestre de 1926.

    A família Crespi responde provavelmente pelo controle total da empresa desde 1925. Rodolfo Crespi (1874-1939), patriarca da família, e seus filhos surgem nos registros, o que explica a total omissão, desde os anos iniciais de operação do Esplanada, sobre a composição inicial de acionistas nas parcas referências bibliográficas ao empreendimento.

    Num primeiro momento, seu genro, Fábio da Silva Prado (1887-1963), responde pela empresa. Casado desde 1914 com Renata Crespi (1897-1981), o casal teria herdado o hotel com a morte de Rodolfo Crespi em 1939. Entre 1934 e 1938, Fábio Prado foi prefeito indicado da cidade de São Paulo.

    A Companhia dos Grandes Hotéis de São Paulo surge ao final da década de 1940 como sendo presidida pelo Conde Raul Crespi (1909-1980), irmão de Renata (HILTON, 1948, p.75). Nada se sabe se os acionistas anteriores teriam mantido algum outro vínculo com o empreendimento, ainda assim, como veremos adiante, haverá referência eventual nesse sentido na década de 1940.


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    Para citação adote:

    MENDES, Ricardo. Hotel Esplanada: a política de fomento
    para os Grandes Hotéis paulistanos da década de 1920.
    INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 8 (33): jun.2013
    <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>
    ISSN: 1981-0954



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