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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, setembro/outubro de 2008
Ano 4 N.20 

Abertura | Introdução | Mapas | 1810 | 1841 a | 1841 b | 1842 | 1847 | 1855 | 1868 | 1877 | 1881 | 1890 | 1897 | Referências

  • 1890

  • PLANTA N. 10

    PLANTA DA CAPITAL DO ESTADO DE S. PAULO

    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO,1890
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    PLANTA DA CAPITAL DO ESTADO DE S. PAULO
    e seus arrabaldes
    desenhada e publicada por
    JULES MARTIN em 1890
    • Petipé de 1000 m
    • Dimensões originais: 1165 x 986 mm (sem moldura)
    • Papel com velatura no verso, com perda de suporte.
    • Técnica do original: impressão sobre papel, em cores.
    • Exemplar impresso pertencente ao Museu Paulista-USP.
    • Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.


    ANÁLISE

    Temos agora sob os olhos a primeira carta paulistana executada após a Proclamação da República. Atesta o acelerado processo de urbanização então em marcha, resultante da situação geral de prosperidade que, graças à economia agro-exportadora, envolvia o agora Estado de São Paulo. Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal estivera às voltas com o extraordinário incremento populacional ocasionado pela imigração e isso se refletia na rápida expansão da área urbana da cidade. Os proprietários das chácaras mais próximas arruavam-nas conforme seus interesses particulares e a Câmara encarregava-se de estabelecer a comunicação viária entre os vários loteamentos criados pela iniciativa privada.

    Em decorrência desses fatos, os limites da planta de 1890 mostram avanço com relação aos da planta de 1881 (Planta n.9). Ao norte, a Ponte Grande ainda permanecia como ponto extremo, mas, ao sul, novas ruas cortavam os bairros da Liberdade, Glória e Cambuci. A Rua de São Joaquim, por exemplo, aberta em 1879 nas terras de Joaquim Eugênio de Lima, por iniciativa do proprietário, punha a Rua da Liberdade em comunicação com a Rua da Glória. A Rua Tamandaré, aberta em 1880 pelo Dr. Manuel Batista da Cruz Tamandaré, em seguimento à antiga Rua do Conde d’Eu (atual Francisco Glicério), interligava a Rua da Liberdade e a Várzea do Tamanduateí. Do bairro da Mooca ia-se ao Brás pelas Ruas Carneiro Leão (1881-1882) e Monsenhor Anacleto (1883) e da Mooca ia-se ao Cambuci pela futura Rua Luís Gama (1882). Oferecida à Câmara por Francisco Antônio Pedroso, em 1887, a Rua Pedroso partia da Rua de Santo Amaro (atual Avenida Brigadeiro Luís Antônio) e, atravessando a Rua da Liberdade, ia ter na Rua Tamandaré. A leste, os limites haviam-se expandido grandemente com o arruamento surgido em torno da Estação do Norte (1877) e da Hospedaria dos Imigrantes (1885-1886). No Brás e no Pari – bairro em que se instalava a atividade fabril segundo depoimentos da época –, haviam surgido ruas que se comunicavam com a Luz: a Monsenhor Andrade era de 1880, a São Caetano, de 1881-1885, e a Paula Sousa, de 1890. A oeste, os limites iam agora adiante do Hospital da Misericórdia (1881-1884) e da Capela de Santa Cecília (1861). Muitas vias públicas haviam sido abertas em 1883 nos arredores imediatos do hospital, entre elas a denominada Martim Francisco, criada por iniciativa do proprietário desse nome, enquanto, não longe dali, a antiga Chácara do Arouche, nas mãos do Dr. Antônio Pinto do Rego Freitas, começou a ser arruada em 1881 com a Rua D. Maria Teresa (hoje trecho inicial da Avenida Duque de Caxias) e, mais tarde, em 1887, com a rua à qual se atribuiu o nome do dono, falecido um ano antes.

    Ainda com relação aos limites da cidade, deve-se atentar para o fato de não estar incluído nesta planta o nascente bairro de Vila Mariana, onde fora inaugurado recentemente o novo matadouro municipal (1886-1887). Esse arrabalde foi oficialmente incorporado à área urbana da cidade em 1887 e desde então os moradores do lugar se viram obrigados a solicitar alinhamento quando quisessem edificar.

    Durante os anos 1880, fatos relativos à expansão urbana da cidade de São Paulo e ao adensamento de sua trama viária sucediam-se de modo quase vertiginoso. Assim é que desde 1881, por exemplo, a Câmara paulistana se mostrava preocupada com a comunicação dos Campos Elísios com os bairros do Bom Retiro, Luz e Brás. Aproveitando o oferecimento de terras feito naquele ano por Manfred Meyer, proprietário que ia lotear a Chácara do Bom Retiro, a Câmara cogitou mandar abrir o prolongamento da Rua Helvetia até essa via se encontrar com a Rua João Teodoro, fazendo em nível o cruzamento da linha férrea de Santos a Jundiaí (do lado do Bom Retiro esse prolongamento seria representado pela futura Ribeiro de Lima). A decisão da Câmara desencadeou uma longa pendência judicial com a companhia ferroviária inglesa (1882-1889), só solucionada com o compromisso da San Paulo Railway de construir um viaduto de ferro para que a referida passagem se efetuasse a partir do final da Alameda Nothmann.

    Observando a planta de 1890, podemos notar que o bairro do Bom Retiro se achava então em processo inicial de formação. O arruamento assinalado no documento, sobretudo nas proximidades das linhas férreas, não corresponde nem ao que existia, nem ao que seria feito depois.
    A Fábrica de Tecidos de Anhaia e Cia., por exemplo, propriedade de um ituano, Coronel Luís Antônio Anhaia, uma das primeiras indústrias do bairro, construída em 1885 na Rua Alta (hoje Anhaia), na altura da Rua Silva Pinto (rua sem nome, na planta), nas proximidades da linha férrea, passou a impedir com sua presença que fosse prolongada a Rua Alta, melhoramento que estava sendo reivindicado à Câmara pelos moradores da região. Segundo os vereadores, não havia nenhuma necessidade de encompridar essa via pública, já que a passagem entre os Campos Elísios e o Bom Retiro se dava pela Alameda Nothmann. No entanto, a reivindicação denegada em 1885 aos moradores do Bom Retiro aparece impressa na planta de 1890.

    Também a identificação das ruas nessa parte da cidade se apresenta de modo confuso. A Rua dos Imigrantes, por exemplo, para a qual Manfred Meyer solicitava consertos à Câmara em 1883, está assinalada erradamente. Corresponde de fato à atual Rua dos Italianos (na planta n. 11, de 1897, ela aparece sob o nome de Caiapós). É a primeira paralela à direita, sem nome no documento cartográfico, que é a verdadeira Rua dos Imigrantes, hoje José Paulino. O trecho inicial desta última, nas proximidades do Jardim da Luz, foi aberto somente em 1890 às custas da estrada de ferro inglesa, provavelmente seguindo o traçado de um antigo caminho que passava no local.

    O nome da Rua dos Imigrantes é devido à hospedaria construída nessa via, em 1882, pelo governo provincial, para receber a mão-de-obra estrangeira que chegava em grande número à Capital. Anos depois ela se transferiria para o Brás, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante. Quanto ao nome de José Paulino, adotado ao que parece no início do século XX, refere-se a um personagem importante de Campinas, onde assumiu o cargo de presidente da Câmara em 1892. Fazendeiro, investidor em estrada de ferro, seguradora e banco, José Paulino Nogueira deu o nome à cidade de Paulínia, a ruas em Campinas e São Paulo e está na origem da cidade de Cosmópolis.

    A Rua do Jardim vista em planta é atual Ribeiro de Lima, aberta por Manfred Meyer com consentimento da Câmara para interligar a Rua João Teodoro com a Helvetia, comunicação que acabou não sendo realizada. A Rua Marquês de Três Rios, na parte correspondente à atual Praça Fernando Prestes, aparecia na planta de 1890 sob o nome de Rua do Dulley, porque terminava no portão da chácara então nas mãos da viúva do engenheiro norte-americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro, inaugurada em 1877. E, em 1888, o Marquês de Três Rios abria ruas em sua “Vila Marquês de Três Rios”, propriedade situada entre a Luz e o Bom Retiro, logradouros que ainda não aparecem em planta.

    Na parte oeste da cidade ocorria fenômeno fundiário semelhante. Em 1882, a Baronesa da Limeira anunciou a intenção de arruar suas terras, o que permitiria a interligação dos bairros de Santa Cecília, Campos Elísios e Bom Retiro (entre as vias que seriam abertas se achava a Rua Barão da Limeira). Em 1884, moradores das imediações solicitaram o prolongamento da Rua São João até a das Palmeiras, pedido atendido em 1887, mas com a extensão viária sendo levada apenas até a Alameda Glette.

    Enquanto isso, na parte ao sul da Capital, D. Ana Maria de Almeida Lorena Machado, bisneta de D. Bernardo de Lorena, comunicava à Câmara, em 1885, sua decisão de retalhar a chácara que lhe pertencia localizada na Rua Tabatingüera (o que ocorreria cinco anos mais tarde). E, no ano seguinte, começava finalmente a ser arruada a Chácara da Glória, propriedade nacional estabelecida na estrada que seguia para o arrabalde do Ipiranga.

    Como o objetivo que presidiu a criação do presente documento cartográfico era orientar os forasteiros, que pouco ou nada conheciam de uma cidade em constante crescimento e transformação, a trama viária mostrada nele foi simplificada, com todas as vias se apresentando com a mesma largura, bastante exagerada na parte relativa ao Centro. Também foram assinalados os principais edifícios da Capital, sem, porém, ter sido feita por vezes a necessária identificação. Além de igrejas, conventos e edifícios públicos, aparece no mapa algo importantíssimo para os visitantes da época: os pontos de parada dos bondes da Companhia Ferro Carril de São Paulo, em atividade desde 1872.

    Podemos identificar quase todas as construções assinaladas nesta planta, obras em sua maioria recém-construídas ou em fase de conclusão. Seu número elevado e sua grande diversidade eram indicativos da vida agitada, e economicamente bem sucedida, que agora animava a Capital: o novo quartel da Luz, chamado Quartel dos Permanentes, projetado e construído por Ramos de Azevedo entre 1887 e 1892; o conjunto dos salesianos, formado por colégio e basílica, edificado nos Campos Elísios entre 1881 e 1901; a Igreja de Santa Cecília, reconstruída, entre 1882 e 1884, no bairro de mesmo nome; a Igreja dos Protestantes, inaugurada em 1873, na Rua do Bom Retiro, atual Couto de Magalhães; a linha da Estrada de Ferro Sorocabana (1870-1875), que partia da Luz em direção a noroeste, paralelamente à linha da Inglesa; a sede da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais (1886-1888), erguida no Largo São Bento; o Mercado de Verduras (1889-1890), cuja estrutura metálica importada da Bélgica estava sendo instalada na Rua de São João; o Viaduto do Chá, apenas iniciado, que, a partir de 1892, melhoraria a comunicação do Centro com a parte ocidental da cidade; a Secretaria de Fazenda (1886-1891), obra de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), sita no Largo de Palácio, atual Pátio do Colégio; a estação da Estrada de Ferro do Norte (1876-1877), localizada no Brás; a Hospedaria dos Imigrantes (1886-1888), projeto de Mateus Häussler, levantada nesse mesmo bairro; o Teatro São José, reformado entre 1875 e 1876, e o Paço da Assembléia Provincial e Câmara Municipal (1877-1879), ambos situados no antigo Largo de São Gonçalo, na época chamado Largo Municipal; a Escola de Primeiras Letras da Rua de Santo Amaro, humilde prédio construído no Bexiga entre 1877 e 1878, e o Hospital da Santa Casa de Misericórdia (1879-1884), vistosamente estabelecido nos altos do bairro de Santa Cecília (atual Vila Buarque).

    Na parte nova da cidade, na recém-nomeada Praça da República, podemos observar a delimitação de uma área com linha pontilhada. Aí, nos últimos momentos do Império, pretenderam as autoridades erigir a nova catedral paulopolitana, mas o advento do dia 15 de novembro de 1889, e a conseqüente separação entre Estado e Igreja, fariam com que o terreno fosse reservado, de modo altamente simbólico, para a futura Escola Normal (1892-1894), instituição de ensino dedicada à formação de professores primários, considerada essencial, na ótica dos republicanos positivistas, para o bom alicerçamento da nova sociedade que surgia.

    Distinguimos também os três largos paulistanos então transformados em jardins arborizados e gradeados, iguais aos que existiam no Exterior: o Largo Municipal, de 1879, o Largo São Bento e o Largo do Palácio, ambos de 1886. E na Mooca podemos ver a projetada Avenida do Ipiranga (1885), que o governo provincial intentava abrir em linha reta ligando o monumento em construção (1885-1894) ao ponto mais próximo da cidade, o bairro do Brás (projeto do engenheiro francês Eusébio Stevaux, não realizado).

    Na frente da já reformada Faculdade de Direito foi inaugurada, em 1890, a estátua de um político recentemente falecido, José Bonifácio, o Moço, seguramente o primeiro monumento em memória de um ilustre personagem erguido no espaço público paulistano.

    E, por fim, no detalhe, o autor Jules Martin reproduziu a planta de 1810, na versão atualizada de 1841 (Planta n. 2). Esse expediente permitia ao público da época estabelecer uma rápida comparação entre as duas plantas e assim constatar, maravilhado, o veloz e o pujante desenvolvimento da capital paulista, sobretudo a partir dos últimos quinze anos.

     
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