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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, setembro/outubro de 2008
Ano 4 N.20 

Abertura | Introdução | Mapas | 1810 | 1841 a | 1841 b | 1842 | 1847 | 1855 | 1868 | 1877 | 1881 | 1890 | 1897 | Referências

  • 1877

  • PLANTA N. 8

    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO

    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO,1877
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    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO
    seos Edifícios publicos, Hoteis, Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios, etc.
    publicado por Fr.do de ALBUQUERQUE e JULES MARTIN em 1877
    • Escala gráfica
    • Dimensões originais do original impresso: 715 x 525 mm
    • Em bom estado de conservação.
    • Impressão litográfica sobre papel colado sobre tecido, em cores.
    • Exemplar pertencente ao Museu Paulista
      No Museu Paulista há uma cópia, sem data, em papel translúcido (vegetal), colado sobre papel japonês, em estado precário, indicada como de autoria de J. D. Santos F.º. Há ainda uma outra, de autoria de Francisco Sansoni, do Cadastro Municipal, conforme assinalado na parte inferior, à direita do documento, que é a cópia aqui reproduzida. Esta última versão não foi encontrada nos arquivos do museu.
    • Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.


    ANÁLISE

    O documento gráfico que ora analisamos se restringe à parte mais ocupada da cidade. Ao norte, atinge o Jardim Público; ao sul, o Largo da Liberdade; a leste, a Várzea do Gasômetro; a oeste, o Largo 7 de Abril (atual Praça da República). Conforme anotações constantes no verso da carteira que protege a versão impressa existente no Museu Paulista, o documento foi redigido pelo engenheiro F. Albuquerque, que era o engenheiro santista Fernando de Albuquerque, então a serviço da Província (e não Francisco de Albuquerque como a coleção do IV Centenário afirmou erradamente e muitos pesquisadores inadvertidamente têm repetido, nem Frederico de Albuquerque, como querem outros), e desenhado e litografado pelo litógrafo francês Jules Martin, bem conhecido dos paulistanos não só por se ter empenhado na construção do primeiro Viaduto do Chá (1879-1892), como também por ter publicado vários outros mapas importantes na época, tais como a carta ilustrada da Província de São Paulo, de 1875, com vistas das estações das estradas de ferro paulistas mais importantes; a planta da cidade de Santos, de 1878, feita nos moldes da planta paulistana ilustrada do ano anterior, e a planta da Capital paulista, de 1890, que analisaremos adiante (Planta n.13). Mapas litografados tanto em formato de bolso, em encadernação portátil, para fins turísticos, como para serem pendurados em paredes.

    Como afirmamos acima, a cópia aqui reproduzida da planta de 1877 foi executada pelo desenhista Francisco Sansoni, que, descobriu-se agora, era funcionário público municipal, trabalhando na Diretoria de Obras e Viação (2ª Divisão), segundo o relatório de prefeito de 1918. Cotejando essa cópia com o exemplar litografado depositado no Museu Paulista, originalmente acondicionado em carteira de papelão, notamos ser gritante a diferença de qualidade artística e informativa existente entre ambos os exemplares.

    Na versão litografada podemos observar as verdadeiras ilustrações de Jules Martin feitas para representar cada um dos edifícios importantes da Capital. Importantíssima documentação iconográfica referente a uma época muito carente desse tipo de registro. Igrejas, conventos, estações de estrada de ferro, hotéis, hospitais, teatros, escolas, sedes de repartições públicas, sedes de redação de jornais, jardins públicos e... (novidade!) fábricas, as primeiras fábricas a vapor da capital paulista.

    A intenção do engenheiro Fernando de Albuquerque e do litógrafo Jules Martin com a criação desta planta era certamente orientar as pessoas do Interior que vinham tratar de negócios em São Paulo e os estrangeiros que chegavam para trabalhar na Capital. Afinal, o presidente da Província João Teodoro Xavier (1872-1875) iniciara durante seu governo uma campanha de embelezamento da cidade, pensando especialmente nos fazendeiros de café que com regularidade vinham a São Paulo ou até mesmo se mudavam para cá. Muitos deles, na verdade, se mostravam tão interessados em expandir seus negócios, que começaram a se dedicar a atividades econômicas urbanas. Graças à pujante riqueza gerada pela economia agro-exportadora do Oeste paulista e à farta distribuição de concessões de privilégios feita pelo governo, passaram os representantes desse novo setor empresarial a explorar rendosos serviços urbanos numa cidade até então quase totalmente desprovida de infra-estrutura. Seriam assim organizados, ao longo dos decênios de 1870 e 1880, vários serviços públicos: o transporte coletivo (carros à tração animal), em 1872; a luz a gás, nesse mesmo ano; a rede de água e esgotos, em 1883; o telefone, em 1884, e a luz elétrica em 1888.

    Também os edifícios da cidade haviam evoluído bastante. Desde o final dos anos 1850, construía-se com tijolos e de acordo com uma estética divulgada a partir da Corte, o estilo neoclássico. As mais importantes edificações da cidade de então, geralmente desse estilo, foram devidamente ilustradas por Martin: o feio e inacabado Teatro São José (n.48), erguido de 1858 a c.1862, mas totalmente reformado entre 1875 e 1876 por Antônio da Silva Prado, então atuando como empresário teatral; o belo Hospital da Beneficência Portuguesa (n.51), projetado em 1866 pelo arquiteto português Manuel Gonçalves da Silva Cantarino, construído entre 1873 e 1876; o portão do Cemitério da Consolação, executado pelo canteiro alemão João Beck em 1863 (n.31), e o Palácio do Tesouro (n.32).

    Este último fora iniciado no tempo de João Teodoro (1873) como um edifício de destinação completamente estapafúrdia: no térreo, com arcadas, funcionaria um mercado de verduras, enquanto o primeiro andar seria reservado para uma repartição pública, o Tesouro Provincial. Pessimamente construído pelo capitão da Guarda Nacional Antônio Bernardo Quartim, protegido de João Teodoro, o edifício foi inteiramente modificado no tempo do presidente Sebastião Pereira (1875-1878), sucessor de Teodoro. A obra ficou a cargo do engenheiro militar a serviço da Província Felipe Hermes Trigo de Loureiro, sendo o edifício inaugurado em 1877. Tido como o melhor edifício público de São Paulo da época, nele se deu no mesmo ano o baile de inauguração da Estação do Norte, também ela um prestigioso edifício de estilo neoclássico (18 V).

    Mas na mesma década de 1870, ao lado das construções neoclássicas, começaram a surgir edifícios que seguiam outras tendências estilísticas, de cunho historicista, características do período do Ecletismo: a Igreja Evangélica (L), de 1873, em estilo gótico inglês – desprovida de torre, porque a Constituição de 1824 proibia a construção de elementos externos que denunciassem a natureza religiosa das construções destinadas a templos acatólicos –; a escola de primeiras letras (16 IV) construída pelo governo da Província no Largo do Arouche e inaugurada em 1877, de autoria do inspetor de Obras Públicas Elias Fausto Pacheco Jordão, diplomado e doutorado nos EUA (o estilo da escola adotava elementos do Gótico Perpendicular inglês, usado em escolas americanas); além da própria Escola Americana (39), erguida entre 1875 e 1876, com projeto trazido dos EUA. Esta não seguia propriamente nenhum estilo historicista, porque, na verdade, se baseava nas construções domésticas norte-americanas de tendência vernácula.

    Não devemos nos esquecer ainda que a planta ilustrada de Martin foi objeto de uma edição posterior, com a mesma data (julho de 1877), acrescida da imagem da importante construção eclética do Grande Hotel (n. 82), projetado e construído entre 1876 e 1878, segundo os padrões neo-renascentistas, de autoria do engenheiro alemão Hermann von Puttkammer (1842-1917) e seu sócio Carlos Arno Gierth. Ao que parece, a representação desse marco da história da hotelaria paulistana foi considerada tão imprescindível pelo ilustrador, que justificou a edição revisada da planta aqui em análise. (Ver trecho da edição atualizada em TIRAPELI, Percival. São Paulo Artes e etnias. São Paulo:Unesp, 2007. fig.97).

    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO,1877-detalhe do original

    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO,1877-detalhe da cópia
    MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO (1877)

    A transcrição do mapa original, realizada na segunda década do século XX, introduziu distorções gráficas, prejudicando sensivelmente as imagens dos edifícios representados.
    Num caso extremo, o edifício do Grande Hotel - n.82 - foi simplesmente omitido, como indica esta reprodução inclusa em TIRAPELI (2007, p.108), que não revela infelizmente a fonte. Observe que a reprodução da versão "original" disponível no site da SEMPLA (http://www.prefeitura.sp.gov.br) apresenta uma versão similar à edição fac-similar de 1954, na qual tanto o hotel como sua menção na legenda são omitidas. Isto indicaria a existência de 2 versões "contemporâneas", talvez numa tentativa de atualização por parte dos editores originais.


    Vemos assim que em 1877 vinha sendo renovado o patrimônio edificado da cidade, sobretudo graças à iniciativa privada. A crise inflacionária que eclodira em 1875 é tradicionalmente apontada como uma das causas responsáveis pela expansão física da Capital, já que os empreendedores econômicos apenas agora se sentiam motivados a investir em bens de raiz. Outras razões foram citadas à época por Raffard para a frenética especulação fundiária sucedida no ocaso do Império: a diminuição da construção de vias férreas de primeira e segunda ordem, ocorrida ao mesmo tempo que algumas empresas ferroviárias reduziam seus dividendos, havia desestimulado o emprego de dinheiro em ações de estradas de ferro; a previsão da extinção da escravatura, que acarretaria a depreciação das propriedades agrícolas, e o temor de acontecimentos políticos nefastos para as finanças do País, que podiam acontecer a qualquer instante, também levaram fazendeiros paulistas a empregar o seu dinheiro em prédios e terrenos da cidade. O mais opulento deles era sem dúvida José Estanislau do Amaral Campos, que dentro em pouco estaria investindo, sobretudo, em imóveis localizados no bairro de Santa Ifigênia.

    Nesta planta, entretanto, surpreendemos alguns velhos edifícios públicos, de taipa, que ainda conservavam sua antiga aparência, coisa que se modificaria de resto pouco tempo depois: a Casa de Câmara e Cadeia (n.7), reformada a partir de fins de 1877 para ser o Palácio da Assembléia Provincial e Câmara Municipal; o Palácio da Presidência (n.31), reconstruído de 1881 a 1886, e a Academia de Direito (n.1), reformada entre 1884 e 1885. Por terem sido criadas pelo engenheiro francês Eusébio Stevaux (1826-1904), que trabalhava para a Província, todas essas novas fachadas partilhavam de uma linguagem arquitetônica comum, influenciada pelo Classicismo eclético em voga na França durante o período do Segundo Império e da Terceira República.

    Notáveis ainda eram o Jardim Público (n.27), remodelado no tempo de João Teodoro, e a Ilha dos Amores (n.26), também criada sob seu governo em 1874. Na Assembléia Provincial, constituíam os alvos preferidos dos deputados da oposição, que ridicularizavam as construções mal-feitas empreendidas pelo empresário de obras públicas Antônio Bernardo Quartim: a torre do Jardim Público, o chamado “canudo”, já saia da perpendicular, e, na Ilha dos Amores, monumentos disformes “enfeitavam” esse passeio público, regularmente submerso durante as cheias do Tamanduateí provocadas pelas chuvas de verão. Digna de menção era a figura de um pajem do século XVI, instalado no alto de um pedestal de alvenaria verdadeiramente monstruoso. Obra do escultor francês Mathurin Moreau (1821-1912), fundida na importantíssima industria francesa Societé Anonyme des Hauts-Fourneaux & Fonderies du Val d’Osne, essa peça foi depois removida para o Largo do Arouche e colocada sobre outra base, de aparência mais conveniente. Reapareceria muitas décadas mais tarde decorando o jardim lateral do Centro de Estudos Jurídicos da Prefeitura (Cejur), na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, onde pode ser até hoje apreciada.

    Devemos, por fim, mencionar vários galpões industriais então vistos nas cercanias da cidade, em geral acompanhados de altas chaminés: o Gasômetro (n.22), construído entre 1870 e 1872, a Fábrica de Tecidos de Diogo de Barros (n.74), inaugurada em 1874, e a marcenaria denominada Oficina de Santo Antônio (n.75), inaugurada em 1876, além das oficinas da Companhia Inglesa (n.29), edificadas entre 1860 e 1867. Na construção de todos esses edifícios fabris foi empregada a alvenaria de tijolos aparentes e neles compareciam os mesmos elementos formais: arcaturas, óculos circulares, arcos plenos ou segmentais, tudo facilmente executado com tijolos pelos diligentes operários imigrantes, portugueses e, depois, italianos.

     
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